experimentações...qualquer
saí de dentro de casa por me sentir meio imóvel.
cheguei à beira do rio. fui chegando devagarzinho…
tirei os sapatos, subi em um tronco e à medida em que chegava sentia alguma coisa se soltar.
me desequilibrei e quase caí. nesse momento percebi uma conversa dos meus pés com a forma irregular do tronco que os acolhia. não podia pisar ali com os pés da rua. em cima do tronco o pé é outro. irregular, relaxado, deformado.
dos pés a atenção foi subindo. até a ponta dos dedos das mãos fui percebendo a torção, o agarrar, o largar. a bacia, a coluna, o topo da cabeça. furo minha mão no espinho. ainda estou chegando.
o corpo se move pelo tronco, se agarra suavemente nos galhos espinhosos, encontra passagens de equilíbrio e desequilíbrio. dança.
a escrita aparece junto, e ela observa as formas. as formas do quarto, as formas dessa beira do rio. não é apenas sobre elas, mas ali elas saltavam aos olhos.
que formas de corpo se criam na conversa com o ambiente ao redor? como posso acompanhar as deformações desse corpo a se criar?
outubro 2021 and going...
e tem essas dicas que o Antônio me deu hihi:
1. Vá em direção ao que você deseja
2. Fique perto dos seus amigos
3. Admire as formas
4. Acompanhe o balanço das ondas
perto da estação República a cidade de São Paulo se parece pouco com o Rio. mesmo que os esquemas de rua e comércio possam se corresponder. mas quase lembro da região do metrô da Uruguaiana.
Ofereceraceitar,
Um gesto interior que tem um trazer para a frente específico. Um atravessar interno feito de desejo e escuta que encontra o lugar onde se poisar

Aceitaroferecer,
Um atravessar interno que acolhe na frente um poisar e amadurece até ao ponto de estar pronta a possibilidade de (a)largar esse oferecimento
Apareceu uma pergunta do que é trabalhar
E locomoção como frase
umas notas
umas notas
umas notas
documentação exuberante
adentrando o não saber e encontrar Alice...na profundidade do caminho, do outro lado do espelho. a imagem foi aparecida caminhando...sem ver o que estava filmando...apenas escutando o acontecer da atenção...penso que quando liguei a câmara ia rumo a uma parede pintada que substituía as retrosarias da rua da Conceição...afinal era profundidade e o retorno à própria caminhada...
o que vai sendo o espaço experimental?

o que vou aprendendo é que o espaço experimental, esses encontros às voltas com experimentação, comunicação, documentação e feedback, é um bicho selvagem. umas semanas atrás eu arregalava os olhos, surpreendida de me ver em meio a um espaço experimental ao qual ninguém tinha convidado. ninguém tinha feito a chamada a que aquele ajuntamento acontecesse e no entanto a cor do espaço experimental estava lá, o cheiro, a especificidade. não sei o que possibilitou isto, mas os corpos se moveram naquela direção, geraram ali aquele modo de estar. sinto que o que vou aprendendo é a estar atenta ao cheiro, farejando os sonhos dos corpos, espreitando um bicho que tem vida própria, o momento em que ele está se aproximando para então gritar: GALERA, ESPAÇO EXPERIMENTAL À VISTA! não é da mesma natureza de só abrir o convite a cada semana, há uma sintonia entre os corpos que se sinaliza, se pudermos ouvir. e que conversa com os desejos de cada um em si, com uma disponibilidade de experimentar, uma generosidade de estar com. há algo que acontece e os corpos se ajuntam, sendo aquele que lança o convite só um observador atento desta conjuntura. notas para mais tarde: a borbulhar o sonho de abrir mais as asas do EE para o mundo. essa coisa gelatinosa que vai sendo. quando o bicho aparece é brutal.
escrita-pulsação | por coline gras

Escrita...
Entre os mil planos que me proponham as costas projectadas no simili-sofá, a atenção livre, mergulhando entre ondas e ondas e ondas de linhas invisíveis tortuantes flutuantes, perseguido a passo o esbelto cavaleiro preto que galope pelas noches, durante muitas noches, erguendo a cabeça debaixo das suas famosas tesoureiras, apontando como ao final do mundo, o final da lápis que revoluciona alguma coisa da própria gestualidade de ser.

Ser... É uma grande palavra, as costas sabem disso, eu prefiro ao meu cérebro que ele não pertinência ao mundo das razoáveis razoabilidades, algo, algo... Algo está aqui que podemos seguir, de onde podemos deixar cair as ramas, deixar verdejar uma coisa que foram as outras coisas e foram também a beleza encontrante. Quando um sofá te aspira na sua direcção e que tu te sentes chamada pelo escrito sem fim, sem meio, sem qualquer dúvida que implica a re-cognição das coisas entre as coisas.

"Nunca quero deixar de ser criança. No entanto o ponto de báscula que leva um adulto em estar maravilhado pela condição humana de um jovem, não deixa de ser um bom costume de trabalho..! ;) "

"Quero estar feliz" diz sempre ela quase como rezar... Quase como implorar, suplicar, pôr-se de joelho... Quase como se não estava aqui tudo agora. Uma janela atrás de janelas da casa, um homem que suspende e sacode uma toalha, uma luz fracassante, uma diagonal expansiva de onde entra por rios a escrita que escreve escrevente agora. O quarteiro dedo do pé chama algo que adivinha a mescla informe e especialista de que ele está a chamar. Será que o mundo está escrevendo enquanto as costas recuam assim numa espécie de vórtex..?

O diafragmo diafragma algo em reposta ao cérebro que queria dar soluções sem fazer, no entanto, algum esforço. Conversa anatómica que esconde as suas periferias. Voltou ao quarteiro dedo... A espinha que sai pelum lugar e leva o mundo inteiro com ela, sem que nada o ninguém se suja o se limpa. Porque me vem "oração" para falar? Porque estamos num mundo que esquece de tantas coisas que precisa duma coisa como "oráculo", deixando de assumir que uma coisa não é. Vai lá amigo. Deixa estar. Faz alguns passos e veras bem que ao respirar três o quartas vezes, o cérebro ombicular crescerá ao sentido contrária que ele pensava.

Nomeio esse texto a moda Nietzsche é mesmo ele que inspirou algo, escrevendo isso, parece que desaumenta o mundo que deu à luz a algumas dessas palavras, mas cuja Nietzsche parecia ser, por algumas vezes, amigo ; a fuga cerebral, a fraqueza e a submissão dentro da condição dum "homem superior". Mas amigo a quem falou... As coisas mudam de realidade... Isso, por tão óbvios que seja, o homem fica, a frente disso, tão frágil tão frágil tão frágil.
me conmovió la danza da velha, a finura dos fius a penetrar na terra e a percorrer o corpo, a ternura y el juego, el amor y el tiempo... El placer y el misterio, la danza.
Lara
....cinco de novembro de dois mil e vinte e um...
a atenção é a dança
frutos e frutificações
um homem está sempre a começar
a entrar-sair
dedos do talho
atenção! era o que dizia um mestre japonês
misturas de qualidades são como misturas cromáticas
podem criar tons lamacentos e às vezes mais límpidos
o que fica atrás do que entra?
alguma coisa saindo?
...espaço experimental de 12 de novembro...
É que com tanta obra meió segurar a paiedes
...e os contos de encontros....
O que acontece quando se chega numa escola e percebe que há uma dança escondida lá dentro e se calhar ninguém está a ver?

Sempre observo que tem umas crianças na escola que se calhar, ouvem danças que ninguém está a ouvir, só elas. está mesmo ali no corpo de uma ou outra. ontem quando cheguei na escola, comentei com o gui que eu adorava passar o dia na escola enquanto uma pessoa que está na escola que não precisa cumprir uma tarefa. gostava de filmar o que acontece, sei lá, estar na escola só observando, estando… acontecem muitas muitas coisas dentro de uma escola, são infinitas… naquele dia estava atenta à uma pessoa que anda mais apressada e aborrecida, outra que passa com um chupa na boca a olhar os riscos da parede e aquela outra que só anda a saltitar. essa que anda aos saltos se calhar está a ouvir uma dança que só ela está a ouvir.

acontece que nesse mesmo dia, a sala que íamos entrar estava um bocado tensa a levar uma daquelas grandes reflexões sobre o comportamento. ficamos a esperar do lado de fora. sentei-me na escada e de repente comecei a ouvir uma dança:

um corpo lá de cima da enorme escadaria começa a derreter até chegar o fim dos degraus. apareceu isso e não dei muito ouvido ao que estava a ouvir… acontece que a dança continuou a soprar no ouvido e o grande sermão de dentro da sala nunca mais acabava. partilhei com o gui o desejo de derreter e por fim fui experimentar mesmo... para ver se era possível partilhar esse desejo com a turma… fui lá no cimo da escada e comecei a derreter por entre os degraus. ficamos ali a dançar-estudar-ouvir a dança e chegou a hora de entrar na sala.

sabe quando entramos num sítio está um belo climão tenso? aquelas coisas das atmosferas. e nossa eterna prática de ouvir, ir-com, transformar, bagunçar as atmosferas… Lá dentro da sala a dança que soprou ao pé do ouvido foi cair...no chão, cair em si, cair por dentro do próprio corpo…cair e recuperar. até que o tiago diz que quando caímos em nós próprios por dentro do corpo era como se os ossos desligassem.

desligar os ossos?

se calhar, lá estavam as ligações… o que é que liga um osso ao outro? ficou no ar a pergunta. um disse que era a vida, a outra disse que eram as amizades, o outro disse que eram as célular...

Fomos embora com o desejo de dançar o derreter das-nas escadas…. talvez na quarta feira quando lá voltarmos.

mas será que essa é uma dança que é só pra mim como a menina que anda a saltitar numa dança só dela? quando eu sei que uma dança é para partilhar ou para deixar ali só pra mim?

clara

hoje a dança foi convocada e lá fomos nós ouvir a convocatória da dança.

indo

foi engraçado. fui embora na segunda com a pergunta da partilha da dança. e hoje a dança foi oficialmente convocada. claro que a convocatória se deu porque comentei ainda na segunda que havia um desejo de dança hihi, era natural que o interesse por ela aparecesse, mas fiquei feliz na mesma e lá fomos nós escutar a dança convocada.

indo de dentro da sala ao saguão da escada centenária. sobe-se ao topo, cai por dentro do próprio corpo, em si até cair no chão. entrega o corpo ao chão e derrete pelos degraus. derrete enquanto o olho passeia. derrete enquanto distrai-se no próprio corpo indo pela escada abaixo. é muito divertido quando percebe-se que uma dança dá desejo de dança. eu quero. eu quero. eu quero.

lá foram todos experimentar. é muito curioso como o corpo tensiona a cabeça para que ela não bata no chão, até descobrir que é mesmo quando eu entrego totalmente é que o derreter, o escorrer, pode acontecer fluindo escada abaixo.

quase sempre existe o momento da eureka. da maçã que cai da árvore. da cabeça que se deixa ir ao chão. e de repente.. ah… percebi… e vão indo indo indo escorrendo em cada degrau da escada centenária.

cair por dentro do próprio corpo é uma ação.

in.do
...enquanto isso na Voz do Operário...
espaço experimental de 12 de novembro em traços luz da camara